A viagem da UVE com o Aiways U5, com mais de 4.000 km, com o objetivo principal de mostrar como é possível viajar de automóvel 100% elétrico e como – mesmo face a imprevistos – a rede existente permite garantir que a viagem é concluída, sem necessidade de comprometer o planeamento do trajeto.
Longe vão os tempos em que sair de Portugal e atravessar Espanha num veículo 100% elétrico significava ter de recorrer ao apoio de corporações de Bombeiros e tomadas elétricas em casa de amigos pelo caminho. No máximo, no primeiro dia destas viagens, chegávamos até Salamanca e passávamos largas horas a carregar a 22 kW numa simples tomada industrial.
Hoje, num veículo com uma bateria de 63 kWh – como o Aiways U5 -, facilmente chegamos a Burgos em menos de 10 horas de viagem e carregadores não faltam em todo o caminho. Recorrendo ao ABRP – A Better Routeplanner, até é possível configurar um percurso de Lisboa a Antuérpia usando apenas postos de carga de potência superior a 100 kW. Contudo, a realidade no terreno é um pouco diferente.
Até chegar a Valladolid tudo tinha corrido bem. Com o cartão EDP Comercial / UVE em Portugal e EDP MoveON no primeiro Ionity de Espanha, mas, de Valladolid para a frente foi um desafio.
Em Espanha, a infraestrutura de carregamento está ainda muito atrasada, quando comparamos com Portugal ou França. Em Espanha, as dores de cabeça são tremendas para carregar em qualquer sítio. É chegar e só depois ver como é que conseguimos ativar o carregador!
Instalar aplicações atrás de aplicações… Chega a ser ridículo chegar a um parque de estacionamento e ter que instalar uma aplicação num local onde não há cobertura de rede. IBIL, Wenea, Telpark, Iberdrola, EasyCharger, EDP Moveon, Ionity, etc…, redes e carregadores não faltam, mas daí até conseguir usá-los vai uma larga distância!
Em França, a situação é totalmente oposta. Existe uma enorme rede de carregamento nas autoestradas em que passámos, sempre com hubs de 4 ou 6 carregadores, muitos de 175 kW. Quase todos de uma rede única: a TotalEnergies, que parece ter conseguido instalar uma infraestrutura de carregamento impressionante. Entre a TotalEnergies e a Ionity, em França, estamos “servidos”!
Numa viagem longa, em veículo 100% elétrico, o intervalo de percentagem de utilização da bateria deve ficar reduzido a 10-85%. Carregar acima de 85% é muito demorado e perde-se menos tempo avançando para o próximo carregador. Tal como, programar a chegada a postos que desconhecemos, com menos de 10%, é perigoso, pois basta falhar uma saída na autoestrada e podemos ficar numa situação delicada.
A App ABRP funciona na perfeição. Com um planeamento rápido e eficaz, escolhemos o nosso veículo, destino e % de carga da bateria de saída, a partir daí é só seguir as indicações.
1.º dia de viagem: Oeiras (PT) – San Sebastian (ES)
O primeiro dia de viagem foi sem dúvida alguma o mais difícil, em termos de carregamentos.
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Em Valladolid não foi possível de ativar de forma nenhuma o carregador de destino. Para toda a viagem planeámos utilizar a app EDP MoveON para aceder aos carregadores da Ionity; com a promoção em vigor de atribuição de um bónus de 100€ no carregamento de 100€, ou seja, uma redução de preço de 50%, o preço é imbatível. Sabíamos que em Espanha teríamos de recorrer a outras apps, nomeadamente Iberdrola, Wenea, Telpark e Enel X, mas mesmo com tudo isso nos dois primeiros carregadores que visitámos em Valladolid não conseguimos carregar por problemas diversos. Mas carregadores não faltavam e numa 3.ª tentativa num carregador Iberdrola (instalado num parque de estacionamento de um McDonald’s) os eletrões voltaram a entrar no U5.
Até chegar a Valladolid tudo tinha corrido bem. Com o cartão EDP Comercial / UVE em Portugal e EDP MoveON no primeiro Ionity de Espanha, mas de Valladolid para a frente foi um desafio.
Depois de 56 minutos extras perdidos, avançámos finalmente para o ponto seguinte: um Posto de Carregamento Ionity, logo, deveria voltar a normalidade, certo? Errado! O carregador não debitava mais de 10 kW – que é terrivelmente lento -, e ameaçava que ficássemos por ali o resto do dia. A primeira solução foi passar para o lado contrário da autoestrada, onde existia outra estação de carga Ionity. Melhorou passou para uns “estonteantes” 19 kW, mas longe de ser a solução prevista – de 19 kW para os previstos 92 kW vai uma enorme diferença e o horário previsto de chegada estava definitivamente comprometido.
Assim que tivemos autonomia suficiente, avançámos para outro carregador. Ao chegar a outro Posto de Carregamento correu melhor, um posto de 100 kW no parque do restaurante onde jantámos calmamente. Muito antes de terminarmos a refeição, o U5 ficou pronto para seguir viagem.
Desta forma, terminámos o dia num percurso fácil até San Sebastián.
2.º dia de viagem San Sebastian (ES) – Compiègne (Paris) (FR)
O segundo dia de viagem revelou-se muito simples e sem quaisquer complicações, tudo funcionou como previsto. Vejam por este facto: tínhamos previsto chegada a Paris pelas 20h30 e chegámos às 21h15, sendo que perdemos pelo menos 20 minutos extra na saída de San Sebastian. Quer dizer que praticamente cumprimos com o horário previsto.
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Como já dissemos anteriormente, uma enorme surpresa foi a rede da TotalEnergies, muito presente em todas as autoestradas, com um sistema de cobrança que não estamos muito habituados a ver e que também parece resultar; custo diferenciado consoante o tipo de tomada utilizado e um preço por minuto até aos 45 minutos, relativamente mais económico, que depois se agrava após 45 minutos.
Não é económico carregar em França. Mesmo um carregamento dentro da zona mais eficiente da curva de carga do U5, facilmente ficamos muito acima dos 0,50€/kWh. Mais uma vez salva a situação a App da EDP MoveOn, que mantém os preços inalterados em todos os postos da Ionity na Europa. Inexplicavelmente, (ou não), falta Portugal. A diferença de um mercado onde é líder indiscutível, para uma zona que quer “conquistar” será explicação para isto? Mas longe de ser aceitável esta discriminação. Podemos resolver isto EDP!?
Como previsto, jantámos em Paris, junto da Torre Eiffel.
Ainda verificámos postos de carga perto do local, mas rapidamente esquecemos esta ideia – custos acima de 80€, por hora, parece ser a tabela em toda a zona central de Paris -, em carregadores DC entre 20 e 30 kW, com custos tarifados em kWh, completamente proibitivos, superiores a 2,50€.
Jantar e passeio noturno por Paris, não se pode pedir muito mais…
Para evitar a hora de ponta e o trânsito de manhã no centro e arredores da cidade, optámos por ficar num hotel já 66 km a norte de Paris.
3.º dia de viagem Compiègne (FR) – Antuérpia (BE)
O 3.º dia não podia ser mais simples: 317 km com paragem para almoço e curto passeio por Bruxelas. Um carregamento num posto Ionity pelo caminho e chegada ao destino final, Antuérpia, por volta das 16h30.
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Em Antuérpia cumprimos todo o programa da Aiways Europa. É sempre interessante conversar sobre a realidade da mobilidade elétrica noutros países. Foi isso que aconteceu logo no jantar deste 3.º dia e durante todo o dia seguinte, com muita curiosidade de todos sobre como tinha corrido a nossa viagem. Também estavam presentes outros U5 que tinham vindo de França e da Alemanha – viagens um pouco mais curtas em relação à nossa.
4.º dia de viagem – Antuérpia (BE)
Finalmente no 4.º dia conhecemos a fundo o novo Aiways U6, com direito a explicações pelo vice-presidente e líder da Aiways Overseas, Dr. Alexander Klose.
O novo Aiways U6 vai seguramente dar muito que falar. Um desenho exterior atrativo e espaços interiores gigantes parecem ser a imagem de marca da Aiways – o volante deverá ser o único elemento que não chegará à produção – neste U6 que nos foi dado a conhecer em Antuérpia.
A produção e entrega das primeiras unidades está prevista ainda para o corrente ano de 2022 e segundo informações que conseguimos obter, o custo não deverá ser muito diferente do U5.
Também parece ser intenção da Aiways lançar um novo modelo a cada ano!
Para já, esta apresentação deixou muita curiosidade para conduzir o U6 assim que possível.
Viagem de regresso a Portugal
No 5.º dia iniciámos o percurso de volta.
O regresso foi mais do mesmo, revelando-se sempre muito complicado em Espanha, sempre que tentámos sair dos postos que já tínhamos conhecido na ida.
Regresso cumprido na mesma em 3 dias, mas desta vez com direito a muitos mais passeios, nomeadamente em San Sebastian, onde voltámos para passar uma manhã completa, já que na ida os contratempos não permitiram. Os Pintxos tinham de acontecer e não desiludiram!
Os números totais da viagem:
O Aiways U5
Chega a hora de avaliarmos o nosso companheiro de viagem.
A Aiways é uma startup recente, fundada em 2017 e o U5 é o primeiro ligeiro de passageiros 100% elétrico chinês a chegar a Portugal, motivos mais que suficientes para despertar uma enorme curiosidade entre os utilizadores.
As características básicas anunciadas não são muito diferentes de outros SUV concorrentes: motor de 204 cv e 310 Nm, 7,9 segundos dos 0 aos 100 km/h, velocidade máxima de 150 km/h e uma bateria de 63 kWh, que segundo a Aiways, permite uma autonomia de 400 km em ciclo WLTP, com uma potência máxima de carregamento de 92 kW. A bateria conta com uma garantia de fábrica de 8 anos ou 150 mil quilómetros, também aqui em linha com a concorrência.
Conclusões / Opinião UVE
Após este intenso teste de mais de 4.000 km, qual a nossa opinião sobre o Aiways U5?
- Espaço não falta
É verdadeiramente grande, condutor e passageiros podem esticar as pernas e os braços bem à vontade, muito espaço de arrumação na frente, mas curiosamente não temos o habitual porta luvas. Carro gigante, com muito espaço no habitáculo e bagageira enorme, que também pode abrir pelo sensor “do pé”, facilita imenso quando temos coisas na mão.
- Qualidade de construção
Absolutamente nada a apontar; é acima da média. O fechar de portas é um exemplo disso. O volante é agradável ao tato, tem uma forma “retangular” um pouco diferente, que se pode estranhar inicialmente, mas que se revela muito apta após poucas horas de utilização. Os botões no volante, têm um tato plástico e não condizem com o restante requinte de acabamentos. Boa insonorização; o ruido de rolamento é mínimo.
- Teto de abrir
Com tejadilho integral de vidro que pode ser coberto por uma persiana de acionamento elétrico. Quando aberta, temos uma grande luminosidade no interior. Tudo isto contribui para um excelente nível de conforto a bordo.
- Equipamento
O nível de equipamento nesta versão Prime do U5, para já única prevista para chegar a Portugal, é top! A Aiways quis colocar todos os sensores e mais alguns no veículo. Eles estão cá todos, sensores e câmaras também não faltam, até um sensor biométrico que avisa quando bocejamos ou desviamos o olhar da estrada. Uma luz nos espelhos laterais de aviso de outros veículos no ângulo morto de visão, que é muito útil e está no sítio certo. Sem dúvida está cá tudo, mas falta aquele pequeno detalhe de afinação final, que os fará funcionar em pleno. Nada que seguramente futuras atualizações de software não consigam resolver; seria bem pior se o hardware não estivesse instalado.
- Menus / Interface
Para interagir com o U5 temos uns menus gerais bastante intuitivos e simples, funcionam muito bem, no entanto não temos, (ainda), um menu de carregamento, que permita variar a percentagem máxima de bateria até onde queremos carregar ou variar a sua potência de carga. Não foi possível instalar a app de conexão do U5 ao telemóvel; é necessário um convite da Aiways para a configuração, o convite foi parar ao spam e quando percebemos isso já era tarde. Provavelmente algumas destas configurações serão possíveis de executar via app.
- Conectividade
A ligação ao telemóvel via Apple CarPlay ou Android Auto é tudo o que necessitamos para levar o U5, sem qualquer stress, a qualquer lado, ligado ao ABRP (A Better Routeplanner). Os cálculos não falham e sabemos sempre como vão os nossos consumos e o que temos de fazer para chegar ao destino programado.
- Apoio à Condução
A leitura dos sinais de velocidade funciona na perfeição. Se viajarmos a 100 km/h e passarmos num sinal de trânsito de limite 90 km/h, já sabemos que vamos ouvir 3 bipes. O cruise control adaptativo é muito cauteloso, reduz a velocidade numa curva, mesmo que não seja muito apertada e mesmo que se regule a distância ao veículo da frente para o mínimo, começa a travar muito cedo. Um exemplo daquele detalhe final de ajuste, fácil de corrigir numa atualização, é a janela de pop-up que aparece “Driver override”, no ecrã em frente ao condutor. Esta janela tapa a informação da velocidade a que vamos, um pequeno problema que duas linhas de código facilmente resolvem. É deste tipo de problemas de juventude que o Aiways sofre.
- Consumo
O Aiways U5 é um veículo grande e alto, e o consumo reflete isso mesmo. Em autoestrada, dificilmente consegue baixar dos 24kWh/100km. Atualmente, um bom veículo elétrico é aquele que possui uma melhor combinação entre autonomia e velocidade de carregamento. Aqui, o U5 está muito bem, pois chegámos a carregar a quase 97 kW, ou seja, até superior aos 92 kW anunciados pela Aiways – muito bom para uma bateria de 63 kWh. A curva de carga é muito interessante, com a habitual gigante quebra após os 80% de carga, mas muito estável até este valor.
- Porta de Carregamento
Nos carregamentos, a posição da tomada de carga (CCS) não é a melhor, colocada na frente esquerda do U5. Não é tanto pela localização, mas sim por estar na horizontal em vez de vertical como é usual, isto torna as fichas e o cabo de carga pesados e difíceis de manusear, e é uma manobra que forçosamente requer utilizar as duas mãos.
- Autonomia real
Não podíamos estar em melhores condições para certificar a autonomia real do Aiways U5. Em autoestrada, a 120 km/h, mesmo com temperaturas em torno dos 10 ºC, supera os 250 km sem dificuldade, considerando uma utilização total da bateria, ou seja, dos 100% aos 0%.
- Lançamento em Portugal e preço
Está previsto o U5 estar disponível em Portugal a partir do início de junho de 2022, com um custo ainda não totalmente definido -, mas que deverá rondar os 43.000 €, para esta versão totalmente equipada para particulares e cerca de menos 6.000 € para frotas. Associados UVE estejam atentos pois deveremos ter condições especiais.
Se querem uma opinião final – e se leram até aqui devem mesmo estar à espera dela -, é sem dúvida um voto de aprovação enquanto utilizador. Se testarem vão gostar. Quem precisa de um grande familiar, com autonomia suficiente para fazer Lisboa – Porto, confortavelmente, apenas com uma rápida paragem, tem aqui uma solução que deve considerar.