A aposta na Mobilidade Elétrica em muitos concelhos de Portugal ainda tem um longo caminho para percorrer. Conheçamos a realidade de Sintra.
Partilhamos um artigo do Jornal de Sintra, que na sua rúbrica “não há planeta b” da edição de 31 dezembro 2020 (pág. 9) se foca no tema das redes da carregamento no concelho de Sintra, e que teve a colaboração da UVE.
Salientamos que Sintra é o segundo concelho com maior densidade populacional em Portugal, com mais de 400.000 habitantes, e onde existe a menor taxa de oferta de carregamento para quem reside ou circula de veículo elétrico no município.
Eis um simples resumo gráfico do TOP 10 dos concelhos do pais com a relação de oferta de carregamento rápido face à sua população:
Agência Municipal de Energia de Sintra (AMES) é uma associação sem fins lucrativos, criada com o apoio da União Europeia e da Câmara Municipal de Sintra em 1997. Tem como missão: “Conjugar e coordenar com as unidades orgânicas e as empresas municipais, políticas de utilização racional de energia e de utilização de energias renováveis” …. entre outros. Considerando a sua existência por que nunca ouvimos falar da AMES, de alternativas ou projetos de energia disruptivos em Sintra? Numa altura em que tanto se fala de descarbonizar, de mobilidade, de trocar os fosseis por renováveis, não deveria estar a AMES em pleno funcionamento? Em 2012 foi apresentado o plano de mobilidade elétrica para o concelho de Sintra. Este plano foi realizado pela AMES em colaboração coma Universidade de Aveiro (UA) e apresentado em dois eventos: o VI Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Mecânica e 8.ª URBA VERDE – Feira das Cidades Sustentáveis. Este ambicioso plano previa a instalação e disseminação de 346 Postos de Carregamento Elétricos (PC). Numa primeira fase piloto seriam instalados 60 Postos de Carregamento Normais (PCN) e posteriormente mais 272 PCN e 14 Postos de Carregamento Rápidos (PCR), com a seguinte distribuição:
Se este plano tivesse sido executado, Sintra estaria no lugar cimeiro dos municípios com este tipo de oferta, no entanto, o cenário real é bastante diferente. No documento do PDM – Relatório de Caracterização e diagnóstico do Concelho de Sintra (Tema 10 – Acessibilidades, Transportes e Mobilidade) – datado de 2014, eram apontados 13 lugares de estacionamento dotados de PC, nas seguintes zonas do Concelho de Sintra:
– Parque da Pena;
– Vila de Sintra (Volta do Duche);
– Vila de Sintra (Rio do Porto);
– Sintra (Estação da CP);
– Estefânia de Sintra (C. C. Olga Cadaval);
– Portela de Sintra (Estação da CP) ;
– São Pedro de Sintra.
Apenas a Vila de Sintra foi contemplada com este tipo de estrutura e bastante aquém das expectativas e objetivos traçados em 2012. Consultada a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) sobre a realidade atual do concelho de Sintra, os dados são estes:
Ou seja, um total de 19 PC funcionais em todo o concelho. Não admira, portanto, que Sintra esteja em 13º no ranking de municípios com PCR, atrás de municípios como Ponta Delgada, Matosinhos, Loulé, entre outros. A ausência de estratégia e execução na disseminação de PC pelo concelho, afasta Sintra da oportunidade de estar na vanguarda, de oferecer alternativas de mobilidade, boicotando todos os esforços existentes para descarbonizar o planeta, ou seja, retira competitividade ao Município. Dois exemplos dessa ausência de estratégia são os parques de estacionamento da Cavaleira no Algueirão, e o parque de estacionamento da Portela, que apesar de serem recentes, estas infraestruturas não foram tidas em conta. Mas, não foi somente a mobilidade elétrica que ficou esquecida. Tudo indica que a própria AMES cessou atividade (no sítio da AMES a publicação mais recente datava de 2015) e não se conhecendo substituto para o objetivo, o interesse e a intenção de alterar o paradigma da gestão energética do concelho terá ficado na gaveta. Para quê promover estudos, ou criarem-se “agências” se são inconsequentes? Para que se perde tempo, expectativas e recursos sem qualquer tipo de resultado? Ou sequer ilações do que parece ter sido um falhanço.
Este tema, que diz respeito ao futuro do planeta, requer um compromisso claro e prolongado no tempo, deve ser negociado com as forças políticas mais expressivas do concelho, de forma a obter um consenso e um caminho inequívoco, mesmo que os executivos mudem, ou seja, uma visão a longo prazo e não de 4 anos.
Zeca Ferrão, Jornal de Sintra