Este é efetivamente um dos pontos mais importantes do panorama atual com o novo Orçamento do Estado a promover uma nova abordagem aos apoios estatais à aquisição de veículos elétricos, algo que a UVE já veio contestar, considerando que vai de encontro à necessidade de maior implementação dos veículos eléctricos e redução das emissões poluentes e dos consumos.
A questão ambiental foi, com efeito, uma das mais presentes ao longo da conferência de apresentação da UVE, a qual teve lugar no Museu da Eletricidade, com discursos de Eduardo Rêgo, conhecido pelos seus trabalhos de voz-of em documentários sobre natureza e vida selvagem.
Atribuindo uma relação direta entre as emissões poluentes e a degradação ambiental, tanto Rêgo como José Medeiros Pinto, Secretário-Geral da Associação de Energias Renováveis (APREN) destacaram a importância de uma cada vez maior ‘eltrificação’ da sociedade e do setor dos transportes. Medeiros Pinto destacou mesmo as condições de excelência de Portugal para poder vir a ser um dos países em que a mobilidade elétrica mais eficazmente contribui para a redução da pegada ecológica e melhoria das condições sócioeconómicas, enfatizando que uma maior propensão das energias renováveis para a rede elétrica ajudará o PIB (mediante a redução de importação do petróleo) e o emprego. De forma ambiciosa, advoga mesmo que em 2040 Portugal poderia ter a totalidade da sua energia derivada das energias renováveis.
Incentivar e promover
Ao abrigo da sua ação, a UVE pretende impulsionar a venda dos eletricos e oferecer uma voz ativa aos proprietários de veículos elétrico. O objetivo máximo é, assim, revelar e dar destaque às inovações do mercado no capítulo da mobilidade verde, mas também a realização de conferências e ações de formação sobre os diversos parâmetros dos elétricos (VE, condução, baterias e sistemas de carregamento). Por outro lado, tenta promover e divulgar as infraestruturas de carregamento público e privado e incentivar a construção de uma solução política de incentivos públicos.
Na conferência, o presidente da UVE, Henrique Sánchez, destacou que os elétricos têm ainda uma margem muito grande para crescer no mercado, beneficiando amplamente dos incentivos fiscais que o Estado concede para a aquisição de novos veículos elétricos, sobretudo no caso das empresas, em que os subsídios são divididos em quatro vetores: isenção do ISV, isenção do IVA (até ao máximo de 50 mil no caso dos hibridos e de 62.500 euros no caso dos 100% elétricos), isenção em sede de IRC e isenção de IUC. Para particulares, o destaque vai para os incentivos ao abate no caso de veículos com mais de 10 anos no caso de compra de um elétrico novo, que vai contar com uma redução ao abrigo do próximo Orçamento do Estado.
Em declarações proferidas ao Automonitor, Sánchez explicou que a UVE nasceu para mostrar que os utilizadores de veículos elétricos são ‘uma realidade’ e que têm de lidar todos os dias com dificuldades inerentes de quem procura uma mobilidade mais sustentável. Aliás, a missão da UVE nasce mesmo pela necessidade de chamar a atenção para os muitos pontos de carregamento avariados.
“A UVE aparece porque sentimos necessidade de criar uma associação. Andámos quatro anos a assistir à constante degradação dos pontos de carregamento existentes e a não instalação dos carregadores rápidos, que era fundamental, senão não nos conseguimos movimentar. Essa é a razão fundamental para a criação da Associação”, começa por dizer o responsável por aquela associação, para quem a utilização de veículos elétricos está hoje sujeita a grandes constrangimentos.
“O que queremos mostrar é que andamos todos os dias de carro e de moto elétrica. Para nós não é só o futuro, é o presente e nalguns casos o passado, como no meu caso, que ando desde 2011 com um carro elétrico e, no de associados que já andam de moto elétrica desde 2007 ou 2008. é o presente, o dia-a-dia. É possível fazê-lo, com restrições sérias em termos de carregamento, mas estamos muito esperançados que como acordo agora assinado entre o fundo português do carbono e a Mobi.E seja possível atualizar e reparar a rede dos carregadores normais que estão degradados e instalar os carregadores rápidos. Simultaneamente, junto das autarquias, concretamente junto da Câmara de Lisboa, mas também com outros municípios, vamos fazer pressão para que seja posta uma sinalização eficiente e oficial para que a polícia possa autuar quando lá estiverem carros que não os supostos”, acrescentou, referindo ainda que, para debater estes assuntos, já solicitou uma audiência com o Governo, que irá decorrer em breve e que terá a presença também da Câmara de Lisboa.
Por fim, num evento que contou com a presença do Secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes, o presidente da UVE mostrou ainda a sua total abertura “para colaborar e para ajudar, dar sugestões, queremos fazer e mostrar que é possível andar de elétrico”.
Governo disposto a colaborar
Pelo mesmo diapasão alinhou José Mendes, com o representante do Governo a demonstrar que um dos principais objetivos do Executivo socialista é precisamente “a descarbonização da economia por via elétrica e das energias renováveis”. Neste âmbito, o veículo autónomo assume grande importância nos esforços de “reduzir as emissões para mitigar o impacto que isso tem nas pessoas”.
O Secretário de Estado Adjunto elencou alguns dos esforços já abrangidos pelo Governo para alavancar a mobilidade elétrica, como a aquisição de 1170 veículos elétricos para a administração pública, “procurando alterar mentalidades”, a que se junta um sistema de monitorização avançado. De igual forma, falando sobre a redução dos subsídios para a aquisição de veículos elétricos mediante a entrega de um carro velho com mais de dez anos para abate, José Mendes desvalorizou algumas críticas quanto a esse plano, destacando, por outro lado, a manutenção de um esforço nesse sentido, mesmo que noutros moldes e relembrando uma premissa: “desde 31 de dezembro de 2015 que esse esquema de subsídios terminou e que não existe um apoio. Ou seja, até à entrada em vigor do novo OE não havia nada, agora já há”.
Anunciando que agora os incentivos têm uma duração de dois anos, ou seja, o esquema atual terminará em dezembro de 2017, foi também revelado que o esquema é regressivo, ou seja, no próximo ano, será metade do valor do subsídio atribuído neste. Ainda no que diz respeito ao dito subsídio para entrega de veículos com mais de dez anos, o Secretário de Estado Adjunto e do Ambiente enaltece que “apenas 192 pessoas aderiram ao esquema e que, desses, apenas um um terço eram privados”.
Por fim, deixou bem vincada a sua aposta na recuperação da mobilidade elétrica como uma das traves-mestras de Portugal: “Tudo farei para recolocar Portugal na liderança da mobilidade elétrica”, garantiu.
Publicado a 2016-03-23, por Pedro Junceiro
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