Artigo de opinião de Henrique Sánchez, publicado na edição nº 64 da revista Blueauto de fevereiro de 2023, sobre a necessidade de acelerar o crescimento da Mobilidade Elétrica em Portugal e o crescimento do parque de veículos elétricos em Portugal e na Europa.
Henrique Sánchez
Presidente do Conselho Diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto
Os transportes rodoviários são responsáveis por cerca de 25% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) na Europa e em Portugal. O combate às alterações climáticas confronta-nos com a necessidade de fazermos algo. A pergunta que muitos se colocam é: o que é que eu posso fazer para contribuir para este combate decisivo para o futuro da Humanidade?
Pois bem, muitas ações, muitas alterações comportamentais podem ser adotadas por cada um de nós e por todos em conjunto como comunidade, o Planeta Terra é o único local, que se saiba, que reúne as condições de sobrevivência da espécie humana.
A área em análise é a da eletrificação dos transportes rodoviários, sabendo que muito mais deve ser feito na totalidade dos transportes por mar, terra e ar, mas também nas indústrias – é assustador ver o crescimento da indústria militar em todo o mundo e a destruição que ela provoca nas pessoas, primeiro que tudo com as mortes e incapacidades que provoca, mas também na destruição dos equipamentos e das estruturas edificadas para servirem as populações: hospitais, escolas, pontes, museus, etc. -, na alimentação, na produção de bens e serviços não essenciais, num consumismo descontrolado e insustentável.
Algumas pessoas alegam que:
- Se todos os carros fossem elétricos onde é que os carregávamos?
- Não se produz eletricidade suficiente para abastecer todos os carros elétricos
- Não posso carregar o carro elétrico na minha casa
- As redes de carregamento dos carros elétricos não são suficientes
Estas perguntas ou declarações seriam verdade se o número de carros elétricos em circulação fosse de tal ordem que não existissem condições para os carregar, ora tal não é verdade e, aliás, está muito longe da realidade, quer mundial, europeia ou portuguesa.
Foquemos-mos na Europa, em Portugal e nos automóveis ligeiros de passageiros.
A quota média de ligeiros de passageiros 100% elétricos na totalidade do parque circulante na União Europeia cifra-se nos 0.8%, realço, menos de 1% de quota de mercado do parque circulante, ao fim de mais de 10 anos do início da comercialização deste tipo de automóveis ligeiros de passageiros 100% elétricos! Quanto caminho temos pela frente!
Portugal encontra-se bem classificado no 10º lugar em 27 países da União Europeia com os mesmos 0.8%. Mas mesmo o melhor classificado, os Países Baixos (por alguns ainda identificado como a Holanda), tem uma quota de mercado de 2.8%, e só existem três países que logram alcançar mais de 2% de quota de mercado, os já referidos Países Baixos, a Dinamarca (2.4%) e a Suécia (2.2%). E entre os 1% e os 2% temos apenas mais quatro países, Luxemburgo (1.9%), Áustria (1.5%), Alemanha (1.3%) e a França com 1%. Relembro que estes são os números ao fim de mais de 10 anos de comercialização destes veículos 100% elétricos.
Considerando outros países europeus que não pertencem à União Europeia temos que o campeão é, com muita distância, a Noruega com 16.2% de quota. Falamos de um país onde atualmente as vendas de ligeiros de passageiros 100% elétricos novos ultrapassa os 80%, de um país com o pacote mais agressivo de incentivos e de benefícios fiscais em todo o mundo para a aquisição de um carro elétrico. Dos outros quatro países extra-comunitários, merece ainda referência especial a Islândia (4.6%) que por ser uma ilha relativamente pequena tem vantagens na adoção de um carro elétrico.
Que conclusões podemos tirar destes números? Temos um longo caminho a percorrer até os carros elétricos serem dominantes, e, esse caminho dá-nos tempo suficiente para desenvolver a tecnologia das baterias, mais leves com maior capacidade de armazenagem de eletricidade o que equivale a dizer mais económicas e com uma autonomia (ou alcance como lhe quiserem chamar) superior, a escala na produção destes veículos vai permitir a redução dos custos de construção, as Redes de Carregamento quer a Rede Pública como as Redes Privadas que são um seu complemento, terão o tempo necessário para crescerem quer em capilaridade abrangendo todas as regiões como em potência fornecendo potências mais elevadas que por sua vez permitirão carregamentos mais rápidos, o aumento da produção de eletricidade através de fontes renováveis, permitindo assim estender a todo o território a não emissão de gases com efeito de estufa e a própria produção local desta eletricidade evitando os grandes parques fotovoltaicos – cada telhado de Portugal deverá ser coberto de painéis fotovoltaicos, cada fábrica, cada hospital, cada escola, cada edifício comercial, cada habitação familiar – devem obrigatoriamente ser fontes de produção de eletricidade renovável e aqui o Estado tem um papel decisivo, não basta dizer que se quer combater as alterações climáticas é necessário e urgente que se criem as condições para que tal aconteça o mais rapidamente.
Tranquilizem-se todos aqueles que acham que o mundo vai acabar com o advento do carro elétrico, muito pelo contrário a adoção de um veículo elétrico é peça fundamental para contribuirmos para um planeta que continue a reunir as condições de vida e a sobrevivência da espécie humana.
Este artigo foi focado no automóvel ligeiro de passageiros 100% elétrico e a sua fonte foi o estudo da ACEA (Associação Europeia de Construtores Automóveis) publicado em janeiro deste ano, muito mais pode e deve ser feito, e em ritmo acelerado, para mudarmos de um modelo económico baseado nos combustíveis fósseis para um modelo económico baseado nas energias renováveis.
A mensagem final só pode ser:
Acelerar – Acelerar – Acelerar
- a eletrificação dos transportes rodoviários
- a produção de energia por fontes renováveis
- a utilização de transportes públicos eletrificados
- a redução do consumo em geral especialmente de bens fúteis
Lisboa, 31 de janeiro de 2023
Henrique Sánchez
Consulte a edição digital da Revista Blueauto, nº 64
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