Artigo de opinião de Henrique Sánchez, publicado na edição nº 65 da revista Blueauto de março de 2023, sobre o crescimento do parque de veículos elétricos em Portugal desde 2010.
Henrique Sánchez
Presidente do Conselho Diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto
No seguimento do artigo do mês passado sobre o parque automóvel elétrico na Europa, este mês vamos falar da evolução do parque circulante de veículos elétricos – todas as categorias – e a sua evolução desde 2010 até 2022.
As vendas de veículos 100% elétricos (BEV – Battery Electric Vehicle) tiveram um crescimento exponencial a partir de 2020 na sequência de uma maior oferta das marcas, do aumento da Rede Nacional de Carregamento, dos incentivos e benefícios fiscais, e do próprio impacto da pandemia da covid-19. O confinamento de março de 2020 permitiu que muitos cidadãos se apercebessem como seria a vida nas grandes áreas metropolitanas se todos os veículos fossem elétricos, pois teríamos o ar muito menos poluído e uma poluição sonora muito reduzida. Este foi o momento em que o crescimento das vendas dos BEV se distanciou das vendas dos veículos híbridos plug-in (PHEV – Plug-in Hybrid Electric Vehicle), que abrandaram o seu crescimento permitindo também que o parque circulante passasse a registar e a consolidar um maior crescimento dos veículos 100% elétricos.
Se analisarmos apenas os ligeiros de passageiros e de mercadorias, sem os pesados e sem a mobilidade suave, confirmamos que têm sido os ligeiros de passageiros a imporem-se em detrimento dos ligeiros de mercadorias, que só a partir de 2021, e ainda sem grande expressão, começaram a crescer nas vendas – porque finalmente começou a existir oferta de ligeiros de mercadorias com autonomias já muito interessantes, especialmente para as frotas de inúmeras empresas que decidiram eletrificar as suas respetivas frotas – e, consequentemente, com repercussão no parque circulante elétrico.
Em relação aos veículos pesados de passageiros e de mercadorias, apenas referimos a oferta existente 100% elétrica a bateria. Registamos um crescimento mais pronunciado nos pesados de passageiros a partir de 2020, existindo atualmente várias marcas de fabricantes destes pesados a fornecerem os seus autocarros elétricos a cada vez mais cidades e regiões que estão a acelerar a eletrificação das suas redes de transportes públicos, de forma a reduzirem os valores da poluição ambiental nas grandes áreas metropolitanas.
No que se refere à mobilidade suave elétrica, as duas rodas com os motociclos e os ciclomotores, mas também os triciclos e quadriciclos elétricos – os nossos já bem conhecidos tuk-tuk -, registou um aumento mais significativo das vendas a partir de 2020, com a entrada de algumas marcas de motociclos e ciclomotores historicamente mais conhecidas no mercado, bem como a cada vez maior oferta de triciclos e quadriciclos elétricos para suprir a procura por parte dos operadores turísticos de tuk-tuk respondendo a uma legislação que os obriga a eletrificarem as suas frotas, consolidando assim o crescimento do respetivo parque circulante nesta categoria.
Analisando ano a ano desde 2010 até 2022, registamos que no início, em 2010, a quota da mobilidade elétrica suave, motociclos, ciclomotores, triciclos e quadriciclos elétricos era esmagadora: 91.2% contra apenas 8.8% do conjunto dos ligeiros e pesados de passageiros e de mercadorias. Com uma predominância dos ciclomotores com uma quota de 54% em 2010. Os ligeiros de passageiros, com o aparecimento dos primeiros modelos comercializados dos automóveis 100% elétricos cresceram rapidamente dos 6% em 2010 para os 20.3% em 2012.
A partir de 2014, os veículos elétricos ligeiros de passageiros já eram maioritários (34.8%) atingindo a “maioria absoluta” em 2015 com uma quota de mercado de 51%. Nestes três anos de 2013 a 2015 foi notória a contração da quota de mercado das duas rodas com o crescimento da oferta dos ligeiros de passageiros 100% elétricos. Na mobilidade suave eram os tuk-tuk que ainda resistiam ao avanço das quatro rodas do automóvel ligeiro de passageiros.
Com o aparecimento de cada vez mais e melhor oferta (aumento significativo da sua autonomia) nos ligeiros de passageiros elétricos, quer nos 100% elétricos (BEV) como nos híbridos plug-in (PHEV) e com a expansão da Rede Pública de Carregamento que se iniciou em 2016, após o abandono verificado entre 2012 e 2015, foram estas as duas razões fundamentais para o vertiginoso crescimento dos ligeiros de passageiros que passaram dos 62,5% em 2016 para os 81,8% em 2018. A mobilidade suave ficou reduzida apenas a 15,1% em 2018 devido à falta de oferta nas duas rodas.
O período entre 2019 e 2021 registou o grande salto nas vendas dos ligeiros de passageiros com praticamente todas os fabricantes mundiais a disponibilizarem uma grande variedade de veículos com autonomias que respondiam às necessidades dos utilizadores – em Portugal a autonomia média dos veículos 100% elétricos em comercialização atinge os 400 km – o que com o grande crescimento da Rede Pública de Carregamento mas também com o aparecimento de algumas Redes Privadas de Carregamento – especialmente para frotas de empresas -, veio abrir o caminho para a completa hegemonia dos ligeiros de passageiros elétricos com uma quota de mercado de 91.3% em 2021. A mobilidade elétrica suave representa em 2021 uma quota de mercado de apenas 6.9%.
De 2010 a 2021 a mobilidade suave elétrica passa de uma quota de mercado de 91,2% para uma quota de 6,59%. Em sentido contrário, a quota de mercado dos veículos ligeiros de passageiros elétricos passa de 8,8% em 2010 para os 91,38% em 2022. Uma completa inversão de tendência.
O parque circulante de veículos elétricos em Portugal tende assim a diversificar-se englobando todas as categorias de veículos, desde as categorias mais suaves, ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos, que são fundamentais para uma melhor mobilidade nos grandes centros urbanos, passando pelos veículos ligeiros de passageiros e de mercadorias, realçando a importância que os ligeiros de mercadorias têm nas frotas das empresas de distribuição e de entregas nas grandes áreas metropolitanas e finalizando com os pesados de passageiros e de mercadorias, dando um maior destaque aos pesados de passageiros, os autocarros elétricos a bateria, para a eletrificação das redes de transportes públicos em áreas metropolitanas. Os pesados de mercadorias só agora começam a ter oferta com os grandes fabricantes mundiais a disponibilizarem oferta com autonomias mais elevadas e com potências de carregamento a permitirem reduzir o tempo do carregamento.
O automóvel ligeiro de passageiros continua a ser o rei de todas as categorias, mas a sua prevalência irá seguramente diminuir nas cidades e nas áreas metropolitanas dando espaço ao crescimento dos meios elétricos de mobilidade suave e dos transportes públicos coletivos de passageiros. Uma mobilidade elétrica cada vez mais interativa com o meio envolvente, com os outros veículos, com os peões, cada vez mais inteligente, assim o determinará o futuro das nossas cidades, para bem de todos os seus moradores, trabalhadores e visitantes.
Não existe Planeta B!
O Futuro decide-se hoje!
Lisboa, 1 de março de 2023
Henrique Sánchez
Artigo corrigido a a 8 de agosto de 2023, com a substituição de imagem que continha erro de cálculo.
Consulte a edição digital da Revista Blueauto, nº 65
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