Artigo publicado na edição nº35 da revista Blueauto de setembro de 2020. Como carregar o seu Veículo Elétrico em casa ou na rede de carregamento. Nesta edição é feita referência ao ENVE – Encontro Nacional de Veículos Elétricos, que terá lugar em Lisboa, dias 19 e 20 de setembro.
Henrique Sánchez
Presidente do Conselho Diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto
Tão fácil como carregar o seu telemóvel ou o seu computador portátil!
Basta uma vulgar tomada doméstica. Esta é, de facto, a revolução em curso, a possibilidade de podermos “abastecer” de combustível (neste caso energia) o nosso carro, mota ou bicicleta elétrica nas nossas próprias casas, escritórios, comércios ou fábricas, usando para tal as tomadas domésticas (Schuko/220 V) que todos conhecemos das nossas casas, ou as tomadas Tipo 1 (tomada azul/CEE).
Poderão ainda ser usadas as chamadas Wallbox que são carregadores de parede, com ou sem cabo, que permitem a seleção da potência, desde os 3.7 kW até aos 22 kW, a ter em conta face à potência contratada e ao carregador interno do seu Veículo Elétrico (VE). Utilizam as tomadas Tipo 1 ou Tipo 2 (Mennekes).
Enquanto que numa viatura com motor de combustão interna tenho, obrigatoriamente, de deslocar-me a uma bomba de gasolina, que com o tempo foi mudando o nome para Estação de Serviço ou Área de Serviço, área que engloba outros serviços (restauração, lavagem, etc.), num já sinal de mudança, num Veículo Elétrico posso carregá-lo na minha própria casa ou empresa, muito mais comodamente e com um custo muito inferior. Não existem complicações, desde que possua uma garagem, um estacionamento, um pátio ou um quintal, e esta operação é tão cómoda como pôr o Veículo Elétrico a carregar e ir dormir.
Mas em muitas outras situações posso carregar o meu VE enquanto faço outra coisa, como ir a um centro comercial, fazer compras num hipermercado, ir ao cinema, ao teatro, assistir a um concerto de música, ver uma exposição, ir a um restaurante ou até a uma praia. Esta mudança de atitude liberta-me tempo. Enquanto o meu VE carrega eu estou a fazer outra coisa qualquer, sendo que a mais económica de todas é estar a dormir e possuir uma tarifa bi ou tri-horária que fará diminuir consideravelmente o preço da eletricidade consumida.
No entanto, existe um número significativo de pessoas que não têm a possibilidade de carregar em casa ou no local de trabalho, e para todas estas situações é necessário uma Rede Pública de Carregamento, quer sejam Postos de Carregamento Rápido (PCR), ou Postos de Carregamento Normal (PCN).
Os PCR poderão ter dois cabos para carregamento rápido em DC (Corrente Contínua) a 50 kW, utilizando os dois protocolos mais comuns, o CHAdeMO (Nissan e Mitsubishi, por exemplo) e o CCS Combo, este último o aprovado e de utilização obrigatória para todo o espaço europeu (fabricantes europeus e Tesla), ou três cabos, dois para carregamento em DC e um em AC (Corrente Alterna) a 43kW.
Os PCN utilizam dois tipos de tomada, a Tipo 1 (azul/CEE) atualmente em desuso e a ser substituída e a tomada Tipo 2 (Mennekes) atualmente o modelo standard utilizado, podendo a potência variar desde os 3.7 kW até aos 22 kW, ambas já referidas anteriormente.
Diferentes tipos de Postos de Carregamento Rápido (PCR)
Exemplo I – Carregador Rápido com ficha CCS/Combo e com ficha CHAdeMO. Ambas carregam a 50 kW em DC, e com ficha Tipo 2 (Mennekes) que carrega a 43 kW em AC. Existem vários exemplos de PCR instalados, na via pública em Vilamoura (Operador EV Power), em superfícies comerciais, em Lagos (Operador KLC) ou em Alverca (Operador Helexia) e em Estações de Serviço (Operador EDP Comercial):
Na via pública em Vilamoura e no Lidl em Lagos
Auchan em Alverca
Estação de Serviço BP no Entroncamento
Um dos melhores exemplos da mudança em curso é a transformação completa de uma “bomba de gasolina” numa Estação de Serviço para carregamento de Veículos Elétricos, neste caso em Vila Nova de Gaia (Operador Power Dot):
Estação de Carregamento para veículos elétricos em Vila Nova de Gaia
Exemplo II – Carregador Rápido exclusivo para carregamentos em DC a 50 kW, com ficha CHAdeMO e CCS/Combo, numa Estação de Serviço (Operador Prio) e na via pública em Lisboa (Operador Mobiletric):
Estação de Serviço da Prio em Camarate e carregador na via pública em Lisboa.
Os PCR utilizam equipamentos que funcionam com corrente contínua (DC). Em Portugal, atualmente, são de 50 kW e fornecem diretamente a eletricidade à bateria do carro. Esta operação é muito mais rápida, podendo um carro elétrico médio carregar 80% da sua bateria em cerca de 30 minutos. Nalguns carros também existe a possibilidade de carregar em (AC) a 43 kW, no caso de alguns modelos do Renault Zoe, ou a 22 kW nos restantes Renault Zoe e alguns Tesla Model S.
Estes exemplos fazem parte dos 342 PCR já existentes no país, dos quais 301 pertencem à Rede Pública de Carregamento, sendo que destes 222 encontram-se já instalados, ligados e em pleno funcionamento.
Ainda este ano deverão ser instalados os primeiros supercarregadores (PCSR-Posto de Carregamento Super-Rápido) na cidade de Lisboa, fabricados pela Efacec. Estes supercarregadores terão uma potência de 160 kW, o que reduzirá a 1/3 o tempo atual de carregamento de um VE.
Exemplo III – Existem ainda as Redes Privadas que são um complemento da Rede Pública de Carregamento. É o caso da Rede Privada da Tesla, constituída pelos SuperCarregadores (SuC) exclusivos da marca Tesla, que carregam de 150 kW a 250 kW. Já existem 70 postos de 150 kW instalados em 7 localizações diferentes, e 8 postos de 250 kW que já estão em funcionamento em Loulé, sempre em DC:
Diferentes tipos de Postos de Carregamento Normal (PCN):
PCN de rua com potência de 3.7 kW, modelo mais antigo do início da Rede Pública:
PCN na via pública em Torres Vedras
Modelo mais moderno, que pode variar a potência entre os 3.7 kW e os 22 kW e que estão a ser profusamente instalados quer na via pública, quer em espaço privados de acesso público (grandes superfícies, hipermercados, centros comerciais, etc.):
Supermercado Continente na Alta de Lisboa
Centro Comercial Colombo em Lisboa
Exemplos de Estações de Carregamento com sombreamento com painéis fotovoltaicos de produção de energia elétrica, em fase de instalação, num parque público em Lisboa (Operador EV Power) e numa superfície comercial no Montijo (Operador Renewing):
Hospital Santa Maria em Lisboa e no Alegro no Montijo
Os PCN utilizam equipamentos que funcionam com corrente alterna (AC) e a potência do carregamento pode variar entre 3.7 kW e 22 kW, dependendo da potência do próprio posto e do carregador interno do Veículo Elétrico que transforma a corrente AC do posto em DC para armazenamento da eletricidade na bateria. Por exemplo num posto de 22 kW, diferentes carros elétricos carregam a potências diferentes que podem variar dos 3.6 kW do Nissan Leaf de primeira geração, aos 6.6 kW do atuais Nissan Leaf, até aos 11 kW dos BMW i3 e dos Tesla Model 3 e ao máximo de 22 kW dos Renault Zoe. Confirme sempre qual a potência do carregador interno do seu VE quando carregar em AC.
Estes equipamentos são os ideais para os parques de estacionamento públicos ou das diversas grandes superfícies comerciais e permitem realizar carregamentos de menor velocidade, substituindo assim o carregamento doméstico quando este não seja possível.
A Rede Pública de Carregamento e as diversas Redes Privadas complementares são fundamentais para o desenvolvimento da Mobilidade Elétrica, quer a de carregamento normal (PCN) para permitir o carregamento a todos os que não o possam fazer nas suas casas ou nos locais de trabalho, quer a de carregamento rápido (PCR) para permitir a realização de viagens mais ou menos longas por todo o território nacional.
Quanto custa carregar um veículo elétrico?
Exemplo prático comparativo:
Carro com motor a gasolina – Preço do litro de gasolina: 1.45€ – Consumo: 7 l/100 km – Custo 100 km: 10€ |
Carro com motor a gasóleo – Preço do litro de gasóleo: 1.32€ – Consumo: 6 l/100 km – Custo 100 km: 8€ |
Carro motor elétrico, carregamento rápido em PCR – Preço por kWh: 0.40€ – Consumo: 15 kWh/100 km – Custo 100 km: 6€ |
Carro motor elétrico, tarifa normal de eletricidade – Preço por kWh, tarifa normal: 0.20€ – Consumo: 15 kWh/100 km – Custo 100 km: 3€ |
Carro motor elétrico, tarifa bi-horária de eletricidade – Preço por kWh, tarifa bi-horária: 0.10€ – Consumo: 15 kWh/100 km – Custo 100 km: 1,5€ |
Estes são números que refletem preços médios dos combustíveis fósseis e da eletricidade, bem como consumos médios para os diferentes tipos de motores.
O custo de utilização de um Veículo Elétrico, somente em relação ao combustível/energia utilizada, pode ser de apenas 1/5 ou 1/6 do custo de utilização de um automóvel com motor de combustão interna.
Estamos todos a viver mudanças disruptivas na forma como nos deslocamos
Pela primeira vez, a energia necessária para movimentar os veículos – sejam automóveis ligeiros de passageiros, motos, scooters, quadriciclos, bicicletas ou cargo-bikes elétricas -, pode ser fornecida a partir das nossas casas, sem necessidade de nos deslocarmos a uma estação de serviço.
Uma última nota
O custo total da energia necessária para o meu VE ainda pode ser mais económico, pois a travagem regenerativa do mesmo permite produzir eletricidade para o próprio veículo, algo impensável nos combustíveis fósseis, fazendo descer ainda mais a fatura final da energia consumida, chegando essa poupança a representar um desconto de entre 20% e 25% sobre o custo total da energia.
Não abordei a questão ambiental, pois não era essa a intenção, no entanto, além de ser mais económica a solução do Veículo Elétrico, ela é absolutamente necessária do ponto de vista ambiental, para tornarmos as nossas cidades mais amigas do ambiente e da saúde pública.
O nosso planeta agradece e os nossos filhos também.
Lisboa, 30 de agosto de 2020
Henrique Sánchez
Presidente da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Nesta edição da revista Blueauto, é feita referência ao ENVE 2020, Encontro Nacional de Veículos Elétricos, que terá lugar nos dias 19 e 20 de setembro, na Praça do Império, em Lisboa.
A entrada no ENVE é livre e gratuita.
Contudo, se for até ao ENVE num Veículo Elétrico matriculado, efetue a sua inscrição previamente, para que possa agilizar a sua entrada no recinto e garantir o seu kit de participação.
(Clique na imagem para efetuar a sua inscrição)
Consulte a edição digital da Revista Blueauto, nº 35
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