Artigo publicado na edição nº 48 da revista Blueauto de outubro de 2021, sobre a COP26 – Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas 2021 (United Nations Climate Change Conference 2021).
Henrique Sánchez
Presidente do Conselho Diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto
O que é a COP (Conferência das Partes)? Nasce a partir da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, Conferência sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, sendo as partes, os governos nacionais. A COP tem a sua génese na Cimeira da Terra que se realizou no Rio de Janeiro em 1992, tendo sido um dos primeiros e sérios alertas sobre as questões relacionadas com o ambiente, as alterações climáticas, o impacto das atividades humanas no equilíbrio climático e a sustentabilidade do planeta Terra e das condições de vida para a Humanidade.
A primeira COP, a COP1, realizou-se em Berlim em 1995 e lançou as bases programáticas a que os diferentes países signatários se obrigavam a prosseguir para atingir as metas a definir em relação à emissão de gases com efeito de estufa, que viriam a ser desenhadas na COP2, realizada em Genebra, na Suíça, em 1996.
COP1, Berlim, Alemanha, 1995.
No ano seguinte, em 1997, em Kioto no Japão, realizou-se a COP3 que definiu as metas para o limite de emissões de gases de efeito de estufa para os 37 países signatários. Estas resoluções ficaram conhecidas como o Protocolo de Kioto. Os dois maiores emissores destes gases recusaram assinar o Protocolo final: os Estados Unidos da América e a China, o que pôs em causa o cumprimento das metas aí estabelecidas.
Seguiram-se um conjunto de Conferências, com mais recuos que avanços, que resultaram em pouco mais do que uma mão cheia de nada. Entretanto aumentavam as emissões de gases com efeito de estufa e deterioravam-se as condições de vida para os humanos, sem sequer nos darmos conta da situação crítica que se estava a criar: aumento da temperatura média do globo, degelo das calotes polares, acidificação dos oceanos, aumento do nível dos mares, eventos extremos climáticos como sejam furacões, tornados, secas extremas e prolongadas, cheias intensas e devastadoras, incêndios incontroláveis (Califórnia, Austrália, Amazónia, Canadá, Sibéria e por toda a bacia do Mediterrâneo), derretimento do permafrost, libertação para a atmosfera de CO2 já capturado, etc.
Em 2015, em Paris, na COP21, foi onde todos os alarmes soaram pela voz dos cientistas: o futuro da Humanidade pode estar em risco e podemos deixar de ter condições de habitabilidade no planeta Terra. Foi aprovado o conhecido Acordo de Paris, assinado por 197 países e lançado oficialmente no Dia da Terra, 22 de abril de 2016, que limitava o aumento da temperatura na Terra a menos de 2 graus centígrados e idealmente aos 1.5 graus centígrados, em relação aos níveis da era pré-industrial. Cinco anos depois estamos muito longe de atingirmos esse objetivo.
COP21, Paris, França, 2015.
O que é que tudo isto tem a ver com a mobilidade elétrica?
Muito, mesmo muito. Entre muitas outras ações que os humanos terão que realizar, reduzir o consumo dos recursos naturais, reduzir drasticamente o uso de plásticos e eliminar o uso de plásticos de utilização única, redução do consumo de carne de origem animal, em três palavras: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, em todas as áreas das atividades humanas. A economia circular não pode ser só um slogan de moda.
Uma das áreas que mais contribui para as emissões de gases de efeito de estufa e de todo um conjunto de gases tóxicos emissores de partículas prejudiciais à saúde dos humanos, é a dos transportes rodoviários, da aviação comercial e do transporte marítimo, quer dos grandes cargueiros, porta-contentores e navios de cruzeiros, que utilizam os combustíveis fósseis.
A UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, tem por missão e ação promover a eletrificação dos transportes, terrestres, aéreos e marítimos, acelerando a transição energética para um modelo de desenvolvimento baseado nas energias renováveis, reduzindo progressivamente a utilização de combustíveis fósseis.
A UVE é também um dos Fundadores da GEVA – Gobal Electric Vehicle Alliance que reúne as associação de utilizadores de veículos elétricos de todo o mundo. Foi fundada em junho de 2021 por 28 associações, a UVE é uma das associações de utilizadores de veículos elétricos impulsionadores desta Aliança participando na primeira reunião preparatória realizada em Lyon, França, em 2019.
Face a todas as evidências científicas que se têm vindo a acumular, aos alertas cada vez mais dramáticos realizados pela Organização das Nações Unidas, mas também pela União Europeia e por diversas organizações internacionais dedicadas à problemática das alterações climáticas e à sustentabilidade ambiental, económica e social, a Aliança Global – GEVA decidiu realizar uma ação a que chamou “Route to COP26”, em que diversas associações de de veículos elétricos de todo o mundo – somos atualmente 44 associações de 28 países, com mais de 100.00 associados, organizados na GEVA – realizarão percursos desde o norte, o este, o sul e o oeste da Europa no dia 28 de outubro para fazer a entrega da nossa exigência: que a partir de 2030 só poderão ser vendidos, em todo o mundo, veículos 100% elétricos e híbridos plug-in e que, a partir de 2035, só poderão ser vendidos veículos 100% elétricos.
As associações de utilizadores de veículos elétricos de fora da Europa serão representados por associações europeias. No caso da UVE, iremos também representar a ABRAVEi, a Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores, assim como os dois países: Portugal e Brasil.
Durante esta ação estaremos em Bruxelas, junto ao Parlamento Europeu, onde entregaremos as nossas exigências já referidas e após atravessarmos o Canal da Mancha pelo Eurotúnel visitaremos, já no Reino Unido, a Gridserve, empresa de soluções de energias renováveis e de soluções de carregamento para veículos elétricos; a MyEnergi, outra empresa de soluções de carregamento para veículos elétricos; e a Britishvolt, uma fábrica de baterias.
Em Glasgow, um representante da GEVA tomará a palavra em representação da Aliança para defender as propostas que divulgadas durante o mês de outubro através de uma petição mundial divulgada em várias línguas, entre as quais o português – convidando desde já os leitores da BlueAuto a assinarem a petição em https://pluginamerica.salsalabs.org/2021copdeclarationportugal/index.html -, contribuindo assim para uma mais rápida transição energética e acelerada eletrificação de todos os modos de transporte dos humanos.
Num momento em que mais importante que palavras, precisamos de ações. Estaremos em representação da UVE e de Portugal, mas também da ABRAVEi e do Brasil, em conjunto com outras dezenas de associações de utilizadores de veículos elétricos e dos respetivos países, defendendo a aceleração da eletrificação dos transportes terrestres, aéreos e marítimos, assim como a redução da utilização de combustíveis fósseis a nível mundial.
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