Nada ficará como antes. Também na indústria automóvel, sendo previsível uma cada vez maior apetência por veículos elétricos suaves, trotinetes e bicicletas elétricas, mas também o andar a pé.
Henrique Sánchez
Presidente do Conselho Diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto
Apesar do descalabro nas vendas dos automóveis ligeiros de passageiros e comerciais, com motores poluentes (gasolina e gasóleo) que caíram 86.5%, as vendas de veículos elétricos no passado mês de abril retrocederam apenas 35.4%, tendo atingido uma quota de mercado de 14.4%.
As vendas de automóveis ligeiros de passageiros e de mercadorias, considerando todos os tipos de combustível/energia, registaram um autêntico colapso no mês de abril. Recuaram 84.8%, tendo sido vendidas 3.687 viaturas, das quais 531 referem-se a veículos elétricos (BEV – Battery Electric Vehicle e PHEV – Plug-in Hybrid Electric Vehicle), correspondendo a uma queda de apenas 35.4%, mostrando uma grande resiliência face ao descalabro das vendas de viaturas com motores de combustão interna.
Analisando os primeiros quatro meses de 2020, enquanto as vendas dos ligeiros de passageiros e mercadorias, considerando todo o tipo de combustíveis fósseis (VCI – Veículos de Combustão Interna) recuaram 43.2%, as vendas dos automóveis ligeiros de passageiros e comerciais elétricos e eletrificados (VE – Veículos Elétricos, 100% elétricos e híbridos plug-in) aumentaram 36.3%, revelando uma grande resiliência face à contínua quebra nas vendas dos veículos mais poluentes, tendência que já vem desde o início do ano, portanto mesmo antes da declaração da pandemia e do estado de emergência.
No passado mês de abril, últimos dados conhecidos no momento em que escrevo este artigo, por construtor/marca, e nos veículos 100% elétricos, o primeiro lugar nas vendas foi para a Nissan com 72 unidades entregues, seguida da Peugeot com 43, ficando o terceiro lugar para a Renault com 39. Smart com 30 e Hyundai com 17 viaturas vendidas, completam os primeiros cinco lugares.
No acumulado do ano de 2020, também para os veículos 100% elétricos, a Tesla mantém o primeiro lugar com 661 viaturas entregues, seguida da Nissan com 568, da Renault com 501, da Peugeot com 243 e da Hyundai com 222 unidades vendidas.
Com o avançar do ano, serão disponibilizados novos modelos, como sejam o Ford Mustang Mach-E, o Mazda MX-30, o Honda-e, o Skoda Citigo-e IV, o Fiat 500e cabrio, o Citroen e-Jumpy, o Peugeot e-Expert, todos veículos 100% elétricos, além de inúmeros modelos híbridos plug-in que também serão postos à venda, até ao fim do ano.
No que se refere aos híbridos plug-in, a BMW em primeiro, a Mercedes-Benz em segundo e a Volvo em terceiro, distribuiram entre si os lugares do podium quer no mês de abril, quer no acumulado do ano.
Abril mostrou uma contração significativa das vendas de veículos 100% elétricos, tendo sido o primeiro mês em que vigorou o estado de emergência. Registou, apesar de tudo, 257 viaturas vendidas, o que equivale a um novo máximo na quota de mercado de veículos 100% elétricos vendidos em Portugal: 7%!
O mesmo cenário registou-se durante o mês de abril no que respeita aos veículos híbridos plug-in, tendo sido vendidas 274 unidades, em pleno estado de emergência, sendo atingido também um novo máximo da quota de mercado de híbridos plug-in vendidos em Portugal: 7.4%!
Na União Europeia, Portugal ocupa neste momento o quarto lugar nas vendas de veículos elétricos (BEV +PHEV), chegando mesmo a situar-se no terceiro lugar na categoria dos híbridos plug-in. No total dos veículos elétricos e eletrificados Portugal ocupa o 4º lugar com uma quota de mercado de 10.6%, logo após o trio que lidera: Suécia, Finlândia e Holanda. Na categoria dos 100% elétricos, Portugal mantém o 4º lugar com uma quota de 5.8%, sendo que no trio da frente estão agora a Suécia, a Holanda e a França. Em relação aos híbridos plug-in, Portugal consegue mesmo ocupar o 3º lugar com uma quota de mercado de 4.8%, logo atrás da Suécia e da Finlândia.
Em termos mundiais Portugal mantém uma posição de destaque, ocupando a sétima posição com uma quota de mercado de 3.9%, sendo que os seis primeiros lugares são ocupados pela Noruega, Islândia, Suécia, Holanda, Finlândia e China. Portugal atinge e mantém uma posição de destaque na mobilidade elétrica, quer a nível europeu quer a nível mundial.
Os próximos meses poderão vir a ser um indicador da resiliência dos veículos elétricos face à completa hecatombe da indústria automóvel europeia e mundial. Para se ter uma ideia do panorama atual, no Reino Unido as vendas totais de automóveis ligeiros caíram 97% durante o mês de abril.
Nada ficará como antes. Também na indústria automóvel, sendo previsível uma cada vez maior apetência por veículos elétricos suaves, trotinetes e bicicletas elétricas, mas também o andar a pé. Quanto aos ligeiros de passageiros e comerciais, deveremos ter uma cada vez maior procura por veículos elétricos.
A União Europeia está a preparar um pacote de incentivos para impulsionar, a utilização e a generalização dos veículos elétricos, assim como a expansão das redes de carregamento a nível de toda a Europa. A dotação poderá atingir os 80.000.000.000 de euros, incluindo a possível isenção do IVA, na compra de um veículo elétrico, para os particulares em todo o espaço europeu.
Cabe a cada um de nós fazer opções mais sustentáveis, mais amigas do ambiente, mas também mais eficientes, tecnologicamente mais desenvolvidas e, muito importante, mais económicas.
A versão digital do nº 32 da revista Blueauto, de junho de 2020, será distribuída gratuitamente a todos os Associados UVE com a quota de 2020 ativa, na sequência da parceria estabelecida entre a UVE e a Blueauto.
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