Criem as condições e os patos aparecem

“Criem uma Rede de Carregamento e os utilizadores aparecem”. Está disponível a revista Blueauto de julho 2019. Mensalmente é publicado um artigo de opinião, por parte do Presidente do Conselho Diretivo da UVE, Henrique Sánchez.


Henrique Sánchez
Presidente do Conselho Diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto


O Jardim Amália Rodrigues, no alto do Parque Eduardo VII, em Lisboa, foi palco de um diálogo entre o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles e a jornalista Paula Moura Pinheiro, durante uma visita antes das obras que criaram o lago do jardim. Na altura o arquiteto Ribeiro Telles produziu umas afirmações que ficaram famosas pela sua assertividade.

Excerto do diálogo publicado pela própria Paula Moura Pinheiro:

Estava a seguir Gonçalo Ribeiro Telles para uma reportagem sobre as obras que viriam a resultar no Jardim Amália Rodrigues, no topo do Parque Eduardo VII, em Lisboa. A dado passo, o arquiteto diz: “tem de imaginar que aqui será o lago. Está a ver? Isto tudo água, com uma série de patos…” E eu digo: “Ah, patos. Que bela ideia. Vão pôr patos aqui.”

O velho senhor fixa-me devagar: “Não. Não vamos pôr patos em lado nenhum. Vamos criar as condições – um lago – e os patos aparecem naturalmente. Olhe, muito provavelmente alguns virão do lago da Gulbenkian”.

Pois claro. Criam-se as condições e as coisas acontecem.

Ciclovia em Lisboa

Estas afirmações do arquiteto Ribeiro Telles têm sido citadas em diferentes situações tal a assertividade das mesmas. Recentemente voltaram a ser referidas quando da construção da rede de ciclovias na cidade de Lisboa: criaram-se as condições, a rede de ciclovias, e os ciclistas apareceram.

E é aqui que entram os Utilizadores de Veículos Elétricos e as condições, ou a falta delas, que urge criar para que eles possam aparecer ainda em maior número e usufruir em pleno dos seus veículos elétricos: crie-se uma Rede Pública de Carregamento, abrangente, operacional, funcional e disponível e os veículos elétricos multiplicar-se-ão.

Em agosto completam-se três anos desde que o atual governo decidiu, e muito bem, implantar no terreno algo que estava prometido desde 2011, e que nunca tinha visto a luz do dia: uma Rede Pública de Carregamento Rápido que permitisse viajar comodamente num veículo elétrico.

De facto, nesse mês de agosto de 2016, inaugurou-se o corredor sul de carregamento rápido na A2, com Postos de Carregamento Rápido em Palmela, Alcácer do Sal, Aljustrel e Loulé. Iniciava-se, assim, o que todos nós, os Utilizadores de VE tanto ansiávamos desde 2011.

A UVE esteve presente e felicitou o início da instalação dos Postos de Carregamento Rápido (PCR) e o princípio de uma Rede Pública de Carregamento.

Na Área de Serviço da Galp em Palmela (A2), 8 de agosto de 2016
Na Área de Serviço da Galp, em Loulé (A22), 8 de agosto de 2016

Por diferentes razões, o ritmo de instalação no terreno dessa Rede de Carregamento foi esmorecendo e perdendo energia até chegarmos à situação atual em que temos um número crescente de automóveis ligeiros de passageiros elétricos mas não temos uma Rede de Carregamento que satisfaça as suas exigências.

Sabemos que qualquer iniciativa disruptiva que quebre rotinas é sempre difícil de ser adotada, existem resistências e bloqueios à mudança. As entidades e organismos que intervêm no processo tardam em adaptar-se às novas exigências, só que a vida não pára e cada vez somos mais, com mais veículos elétricos, e tem que ser garantida a possibilidade de carregamento dos nossos veículos elétricos quando em viagem. É simples:

Façam o lago e os patos aparecem!

Criem uma Rede de Carregamento e os utilizadores aparecem!

A Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos – UVE, elaborou um Manifesto sob o título “O Estado da Rede“, no qual exige de todos os intervenientes dêm respostas urgentes à atual situação da Rede de Carregamento e à resolução das deficiências aí elencadas.


Consulte o Manifesto – O Estado da Rede, elaborado pela UVE.


Capa da revista Blueauto, nº 23 – julho 2019