Artigo publicado na revista DECO Proteste Auto, de novembro de 2018, sobre a família Lopes.
Marcos Lopes é um dos Associados Fundadores e um dos dirigentes da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos.
Mudar de Vida
É mais do que a mera decisão de ter um veiculo 100% elétrico. Para Marcos e a família, a mobilidade elétrica é um modo de vida.
Mas a rotina matinal não é muito diferente da de quem tem um veículo a combustão.
Sandra, a mulher de Marcos, não trabalha há dois anos para ter mais tempo para Gabriel (o filho mais velho, de quatro anos) e para Maria Rita, que já fez um ano.
Marcos, que coordena em Lisboa uma equipa de sistemas de informação num dos maiores grupos bancários nacionais, tenta sair de casa (na zona de Sesimbra) antes das 07h00 se for de carro. Qual? O seu automóvel de sonho, um Tesla Model X, que tem sete lugares para levar à vontade toda a familia.
Se não chover ou achar que é mais conveniente, vai de mota, também ela elétrica (uma Vectrix), e ai usa um percurso que, não obstante ter mais trânsito, é mais curto. Assim, pode sair de casa já pelas 08h30, porque não sofre tanto com o trânsito (demora 25 minutos a ir e outro tanto para voltar). De Tesla, dependendo do trânsito, saindo cedo gasta 30 a 40 minutos para cada lado.
Já Sandra usa o BMW i3 Rex da família, um elétrico com extensor de autonomia para levar Gabriel à escola todas as manhãs, no que são 15 a 20 quilómetros diários, o que permite só carregar o i3 na garagem da sua vivenda uma vez por semana.
Marcos, ao fazer 60 a 100 quilómetros por dia de Vectrix ou Tesla, carrega nos dias em que usa os veículos.
“É algo rotineiro: quando chego a casa, adiciono a tarefa de colocar a carregar na nossa garagem, algo que leva menos de um minuto.”
E quanto é que custa esse uso? A estimativa de Marcos num mês normal envolve (tem mesmo uma folha de cálculo) 65 cêntimos a cada 100 quilómetros com a Vectrix, ou seja, 15 viagens com a scooter elétrica de ida e volta a Lisboa custam seis euros em eletricidade (900 quilómetros). Já de Tesla Model X, dez viagens de ida e volta a Lisboa custam 20 euros (1000 quilómetros).
A família chega a percorrer três mil quilómetros mensais, algo que custa em eletricidade durante a noite (a tarifa bi-horária sai-lhe mais barato) cerca de 46 euros.
“Em combustíveis fósseis deveria gastar cerca de 300 euros.” Como raramente usa postos públicos (só para viagens maiores), Marcos não tem sofrido com o aumento do número de carros elétricos a ocupar postos de carregamento.
A paixão pelo “maravilhoso” mundo da mobilidade elétrica começou há dez anos. Os motivos foram “económicos e ecológicos”.
Sempre se interessou pelo tema da sustentabilidade.
Em 2008, com a chegada da Vectrix a Portugal, estudou a hipótese de comprar a scooter 100% elétrica e começou, assim, uma aventura que iria erradicar os veículos a combustão da sua vida.
A adaptação “foi fácil, mas sem as deslocações para abastecer, porque carregava em casa”.
Muitas oficinas não estavam preparadas.
“Agora já não é assim”
Fez até 2011 52 mil quilómetros com uma Vectrix, altura em que a substituiu por outra com maior autonomia. Marcos lembra os primeiros tempos da mobilidade elétrica, com muitos a fazerem perguntas. E não foi fácil lidar com oficinas que não estavam preparadas para avarias na sua mota elétrica, “hoje não é assim”.
Lembra-se de fazer viagens pelo pais, onde tinha de pedir para carregar em restaurantes, hotéis, juntas de freguesia ou bancos.
“Nunca tive uma recusa, e era sempre tema de conversa. Guardo uma foto a carregar a mota junto a uma arca frigorífica de uma área de serviço desses tempos.”
Hoje os veículos têm mais autonomia e há postos públicos e alguns rápidos. Seguiu-se, em 2013, com a mulher grávida, para evitar as viagens de mota, a compra do seu primeiro carro elétrico, um Nissan Leaf de primeira geração. No caso do carro, foi ainda mais fácil:
“É um carro como os outros, mais silencioso e sem mudanças, e já estava habituado a que o meu veículo carregasse enquanto durmo.”
Para ficar menos dependente da autonomia limitada desse Leaf, em 2015 avançou para um BMW i3 Rex, com 150 quilómetros de autonomia elétrica e um gerador a gasolina que carrega a bateria em caso de necessidade. Em 2018, cumpriu o sonho de comprar um Tesla.
O Model X já tem autonomia perto dos 500 quilómetros. Resultado? Leva mais de 265 mil quilómetros feitos com energia elétrica.
A experiência, diz, foi desde o inicio fascinante. “Gostava da novidade, da tecnologia, da admiração dos outros veículos quando arrancava num semáforo”, aproveitando a potência elétrica mais imediata.
Uma das coisas que também valoriza é a garagem sem fumos nem óleos.
“É extraordinário, e a garagem passou a ser uma divisão da casa e sem criar problemas respiratórios.” Lá em casa estão todos rendidos, inclusive o pequeno Gabriel, que adora ver as portas do Tesla abrir como asas de falcão. Isso e “ver as estrelas à noite”, graças ao teto de vidro do Model X.
Artigo publicado na revista DECO Proteste Auto, novembro 2018