e-Viagem: férias de Aveiro a Monte Gordo num Nissan Leaf de 30kWh

Neste verão fizemos outro teste ao corredor “Aveiro – Algarve” com um veículo elétrico. Desta feita com a atual versão do novo Nissan Leaf de 30kWh, numas mini-férias em Monte Gordo.


Celestino Araújo

Celestino Araújo é um dos Associados Fundadores e um dos dirigentes da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos.


Face ao meu Nissan Leaf de 2011, este que testámos já é da geração atual, a qual se apresenta com imensas melhorias, sendo o aumento da capacidade da bateria (de 24kWh para 30kWh) e o aumento da garantia (de 5 anos ou 100.000km para 8 anos ou 160.000km) as suas principais virtudes.

Saímos de casa no dia 22 de agosto pouco passava das 09h00m com 3 passageiros (2 adultos e uma criança) e a mala bem carregada com a bagagem para as férias. Fizemos uma pequena paragem numa padaria e a seguir num supermercado no intuito de reforçar/melhorar o nosso farnel. Antes de rumar à autoestrada, ainda parámos numa gasolineira (sim, os veículos elétricos também vão às bombas de gasolina) para corrigir a pressão do ar nos pneus, pois a viagem era longa.

O percurso previsto e que veio a ser cumprido foi este:

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Como o carro ia bastante carregado, adotámos um perfil de condução mais lento no intuito de fazer apenas duas paragens no percurso (área de serviço da Galp em Aveiras e área de serviço da Galp em Aljustrel). Algumas vezes andámos a mais de 100km/h de modo a não causar qualquer embaraço ao trânsito que seguia atrás de nós, mas a grande maioria do percurso foi feita entre os 90 e os 100km/h.

E foi assim que, após mais de 200km, chegámos à primeira paragem para abastecer (nós e o carro):

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O carregamento foi muito rápido e não deu tempo para tratarmos de tudo sem que ele acabasse primeiro e o carro ficasse à nossa espera. Para desimpedir o PCR, ainda fui mudar o carro para um lugar de estacionamento na área de serviço enquanto o resto da “tropa” se preparava para podermos seguir viagem.

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O percurso seguinte tinha apenas 167km. Depois de convencer a criança a deixar o baloiço onde quis brincar, arrancámos às 12h20m em direção à área de serviço da Galp em Aljustrel, onde chegámos às 14h10m para fazer mais um carregamento. A ideia seria fazer um pequeno piquenique ao ar livre enquanto se fazia o carregamento. Mas estava tanto calor, que fomos fazê-lo para dentro da área de serviço debaixo de um saboroso ar-condicionado. Mais uma vez tive que retirar o carro para os lugares de estacionamento porque ele terminou a sua “refeição” primeiro que nós e assim teve que ficar mais uma vez à espera da “tropa”.

A partir de Aljustrel, de onde saímos às 14h48m, saltámos fora da autoestrada e fomos atravessar o baixo Alentejo circulando por estradas locais e nacionais até ao nosso destino. O ritmo foi mais lento para desfrutar das paisagens por onde nunca tínhamos andado.

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Estava um calor tórrido lá fora. Desde a descida da serra de Aire e Candeeiros que a viagem foi sempre realizada no conforto do habitáculo com o ar-condicionado ligado nos 21o.

520km e 08h15m depois, chegámos ao nosso destino em Monte Gordo.

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Se à duração de 05h43m prevista pelo Google maps, adicionarmos uma hora para almoço, poderemos concluir que chegámos apenas com um atraso de cerca de 01h30m face a essa previsão. Se a estas contas retirarmos o tempo da ida à padaria, ao supermercado, atestar os pneus e retirarmos os períodos de brincadeira da criança, o atraso descia para bem menos que uma hora.

Fizemos check-in, descarregámos a bagagem e ainda tivemos tempo de desfrutar da piscina antes de jantar. Durante a estadia (praia e piscina), ainda tivemos tempo de ir passear a Faro, Tavira, Isla Cristina, Lepe, etc…

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A viagem de regresso teve início às 10h20m do dia 27 e demorou menos meia hora que a viagem de ida, incluindo uma paragem não muito, mas mais demorada no supermercado, pois o frigorífico tinha ficado quase vazio em casa. O percurso foi praticamente igual mas fez-se ligeiramente mais rápido com a experiência adquirida no percurso de ida.

Por ironia do destino e com o aglomerado de veículos que fazia o regresso de férias, foi engraçado acompanhar alguns veículos com motor de combustão interna que encontrámos quer em Aljustrel, quer em Pombal, os quais até demoraram tanto ou mais tempo que nós para abastecer.

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Apesar de não haver necessidade de carregamento, ainda parámos na área de serviço da Galp em Pombal por imposição da nossa criança que teve que ir à casa de banho. Aproveitámos o tempo para dar um “encosto” de 8 minutos no PCR.


Conclusões

A diferença entre o meu Nissan Leaf ou o BMW i3 que testei (ambos de primeira geração) face aos seus “irmãos” que se encontram atualmente no mercado com baterias que permitem o armazenamento de mais energia, como este novo Nissan Leaf que foi até ao Algarve (ou o novo BMW i3), proporciona um enorme avanço na qualidade e conforto com que se realizam estas viagens de maiores distâncias que realizamos por vezes nas férias.

É por demais evidente que tal também só é possível graças à existência de uma rede de carregamento rápido. Ainda assim, enquanto os primeiros VE (de primeira geração) necessitam de parar em 5 dos 6 PCR que existem no corredor “Aveiro – Algarve”, os segundos necessitam de o fazer apenas 2 vezes, como demonstrei com sucesso e sem qualquer problema na minha experiência.

Entretanto sabemos já que em 2017 (aí à porta) vamos ter à disposição viaturas com baterias de 40 e 60kWh o que virá a curtíssimo prazo aumentar ainda mais as autonomias e os desempenhos dos veículos elétricos.

A lei da fiscalidade verde foi (e é sem dúvida) um grande impulso à mobilidade elétrica, principalmente para o mundo empresarial. Estou convicto, no entanto, que a rede de carregamento rápido irá contribuir ainda mais para a massificação deste tipo de mobilidade pois, como demonstrei nas minhas experiências, os entraves às deslocações mais longas são resolvidos sem prejudicar a operacionalidade nem o conforto, com a instalação integral e o funcionamento no terreno da rede de PCR.

Caso essa rede que está prevista a funcionar até ao final do ano estivesse já no terreno, ter-me-ia sido possível realizar por exemplo uma viagem, que fiz a gasóleo no dia 21 de agosto, de Aveiro a Freixo de Espada à Cinta, com o novo Nissan Leaf de 30kWh. Bastar-me-ia o posto de carga rápida que se encontra previsto para a estação de serviço da A25 em Celorico da Beira para que tal fosse possível sem quaisquer constrangimentos.

Ao longo dos últimos anos e até ao início do mês de agosto de 2016, quando tentava explicar a alguém o que é, como funciona, as vantagens da mobilidade elétrica, etc., conseguia desmontar mais ou menos os medos e mitos de quem vinha logo à partida com a descrença enraizada, à exceção de uma questão – “Então e quando eu quiser ir de férias ao Algarve como é que faço?”. De facto, era quase impossível. Não era viável esta viagem antes da existência dos PCR no terreno, E por mais que arranjássemos soluções alternativas caso a caso para fazer face a esta lacuna, os visados fixavam-se nesse argumento (o qual poderá ocorrer uma vez por ano na maioria das situações), para justificar que o veículo elétrico não servia para as suas necessidades.

Depois de desfeitos os mitos atribuídos à mobilidade elétrica, com o avanço da tecnologia (bem como das garantias) nos veículos e com uma rede de carregamento decente para satisfazer as necessidades das deslocações mais longas, com a rede da fase piloto da Mobi.E em funcionamento pleno, estarão quase esgotados os argumentos que se baseavam nas desvantagens inerentes aos veículos elétricos.

Sem contar com o efeito na balança comercial com a diminuição de importações de produtos petrolíferos, sendo Portugal um país com energia elétrica maioritariamente oriunda de fontes renováveis e/ou não poluentes, e tendo o investimento necessário na rede de abastecimento um peso absolutamente ridículo nas contas públicas, a mobilidade elétrica sem emissões locais poluentes só pode ser travada caso os futuros governantes adotem no futuro uma postura de ataque à mesma, ao serviço de segundos interesses.

(Artigo escrito por Celestino Araújo)