Artigo de opinião escrito por Henrique Sánchez, Presidente da UVE, para a Fleet Magazine em junho de 2023, sobre o caminho percorrido – até à data – rumo à eletrificação dos transportes.
As vendas de veículos elétricos (VE) têm batido sucessivos recordes, mês após mês, ano após ano, tendo este mês de maio de 2023 sido batido o recorde absoluto de vendas, com um total de 7.077 veículos elétricos novos e importados usados vendidos em Portugal, considerando todas as categorias de veículos elétricos.
No que se refere aos veículos elétricos apenas na categoria de ligeiros de passageiros, a quota de mercado em maio de 2023 atingiu os 28.8%, caminhamos no sentido de que quase 1/3 de todos os veículos vendidos em Portugal sejam elétricos, 100% elétricos ou híbridos plug-in.
Em paralelo a Rede Pública de Carregamento Rápido e Ultrarrápido tem registado um aumento significativo, quer na capilaridade da própria rede, expandindo-se também para o interior do país, quer na potência disponibilizada o que permite carregamentos cada vez mais céleres.
Já estão instalados e a operar as primeiras Estações de Carregamento com múltiplos carregadores, os chamados HUB da mobilidade elétrica, que permitem o carregamento simultâneo de vários veículos elétricos, eliminando assim tempos de espera.
BREVE HISTÓRIA DA MOBILIDADE ELÉTRICA EM PORTUGAL
Porém, só em 2011 foram vendidos os primeiros automóveis ligeiros de passageiros 100% elétricos em Portugal. A mobilidade elétrica em Portugal conhece um crescimento residual até 2016, um impulso entre 2016 e 2019 e uma forte aceleração a partir de 2020 até aos nossos dias.
O primeiro encontro de veículos elétricos ocorrido em Portugal, foi exclusivo às duas rodas e realizou-se no Parque das Nações em Lisboa, em 2009, tendo participado mais de uma dúzia de velocípedes, ciclomotores, scooters e um quadriciclo elétrico.
Já o primeiro encontro de ligeiros de passageiros totalmente elétricos realizou-se em Oeiras, a dia 5 de novembro de 2011, na Área de Serviço da Galp, tendo estado presentes sete Nissan Leaf e um Mitsubishi i-MIEV.
Em 2010, a Mobi.E lançou um projeto-piloto que, estando previsto para durar um ano e meio, acabou por durar quase oito anos, instalando cerca de mil Postos de Carregamento Normal (PCN) de 3.7 kW e um Posto de Carregamento Rápido (PCR) de 50 kW.
Esta era a realidade até 2016 quando foi inaugurado o primeiro corredor de carregamento rápido na A2 entre Lisboa e Loulé, com carregadores rápidos nas Áreas de Serviço da Galp em Palmela, Alcácer do Sal, Aljustrel e Loulé.
Inauguração do corredor de carregamento rápido na A2 entre Lisboa e Loulé
A partir daqui um longo caminho tem sido percorrido para desenvolver a Rede Pública de Carregamento para os veículos elétricos, simplificar toda a burocracia para a instalação, homologação e certificação dos Postos de Carregamento e respetivas instalações e para tornar a experiência do utilizador cada vez mais simples e intuitiva.
Concluído o projeto-piloto, todos os carregadores instalados foram concessionados a operadores privados e, hoje, a Mobi.E, como Entidade Gestora da Rede de Mobilidade Elétrica (EGME), executa a gestão dos consumos de eletricidade (kWh) e dos fluxos de euros entre as diversas entidades envolvidas.
COMO CARREGAR O MEU VE: CARTÃO OU APP?
Tem sido um dos vetores de atuação da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos – UVE, divulgar a mobilidade elétrica em geral, os veículos elétricos, os carregadores domésticos, as Redes de Carregamento, promover a simplificação da utilização dos carregadores da Rede Pública e, particularmente, combater a falta de informação de algo que é novo, disruptivo e essencial para a mitigação das graves consequências que as alterações climáticas já hoje provocam nas atividades dos humanos.
No que se refere ao processo de carregamento público de um veículo elétrico, o modelo português separa o custo do fornecimento da eletricidade (kWh), do custo da utilização do Posto de Carregamento. A eletricidade para a mobilidade elétrica é fornecida por um Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME), com o qual o utilizador de um veículo elétrico estabelecerá um contrato com o respetivo tarifário – tal e qual como nas nossas casas ou empresas –, sendo nesse momento fixado o preço da eletricidade em kWh. Ao aderir a esse contrato será disponibilizado um cartão ou uma app que deverão ser ativados pelo utilizador.
O custo de utilização do posto de carregamento é definido pelo respetivo Operador de Pontos de Carregamento (OPC) e terá de estar obrigatoriamente visível através de um monitor ou afixado no próprio posto. O OPC define o custo de utilização do posto de carregamento em tempo, ao minuto, por kWh disponibilizado no posto ou num tarifário misto de tempo e energia.
Existem em Portugal 23 CEME (Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica), sendo que é suficiente o contrato apenas com um CEME para podermos usufruir de toda a Rede Pública de Carregamento.
À semelhança do que fazemos com a Rede Multibanco, onde basta um cartão de um banco para efetuarmos os pagamentos em qualquer estabelecimento através de um Terminal de Pagamento (POS) ou realizarmos levantamentos em qualquer máquina de Multibanco (ATM), independentemente do banco proprietário.
A UVE tem insistido na necessidade de simplificar a utilização dos postos de carregamento, com a possibilidade do pagamento no momento através de meios de pagamento automático, cartão de débito ou de crédito, com o conhecimento do custo efetivo do carregamento que deriva do próprio pagamento automático
Existem em Portugal 86 OPC (Operadores de Pontos de Carregamento), que são os proprietários dos postos de carregamento e os responsáveis pela sua disponibilidade, manutenção e reparação em caso de avaria. Todos os postos terão obrigatoriamente afixado um número de telefone, disponível 24h, para assistência técnica no caso de algum problema durante o carregamento do veículo elétrico.1
A UVE (www.uve.pt) tem insistido na necessidade de simplificar a utilização dos postos de carregamento, com a possibilidade de pagamento no momento e sem a necessidade de contratualização prévia de um CEME, através de meios de pagamento automático, cartão de débito ou de crédito, em todos os postos de carregamento rápido ou ultrarrápido, com o conhecimento do custo efetivo do carregamento que deriva do próprio pagamento automático.
Em viagem é importante termos disponível uma app que identifique e localize os diferentes postos de carregamento, a sua potência e o seu estado (disponível ou indisponível), algo que os próprios veículos elétricos já possuem integrados nos seus sistemas de navegação, mas que é sempre útil ter em redundância.
A superioridade do motor elétrico, em termos de eficiência energética, quando comparado com os motores de combustão interna, só por si, já seria uma razão para a adoção de um veículo elétrico.
Se lhe adicionarmos os muito reduzidos custos de operação, o preço mais reduzido da eletricidade em relação aos combustíveis fósseis, a não emissão de gases com efeito de estufa localmente, e, no caso de Portugal, o facto de mais de 60% de toda a eletricidade consumida no país ser de origem renovável, a opção por um veículo elétrico não só é vantajosa para o ambiente e para as futuras gerações como é também a opção economicamente mais vantajosa.
E o nosso bolso também agradece!
Lisboa, 10 de junho de 2023
Henrique Sánchez
Presidente do Conselho Diretivo da UVE
- A lista completa dos CEME e dos OPC pode ser consultada no portal da Mobi.E (www.MobiE.pt), onde também pode ser consultada, em tempo real, qual a utilização da rede pública de carregamento, no sub-portal MOBI.Data, desde os postos disponíveis, por tipo e por potência, até às toneladas de CO2 não emitidas (só este ano já se pouparam mais de 18,4 toneladas de CO2) ou dos litros de gasóleo não consumidos (também este ano, já se pouparam mais de 6,87 milhões de litros de gasóleo). ↩︎